Estou de volta às voltas com questões de saúde uterina. Me lembrei da frase do mestre Rumi que diz que a ferida é por onde a luz entra em você. E, sem abrir mão dos tratamentos médicos, optei por dedicar-me também a investigar as causas emocionais de tais recorrências. Achei tanta coisa lá no fundo das gavetas da minha alma… Tanta coisa…

Quando a terapeuta integrativa intuiu de me perguntar sobre um impacto emocional ocorrido há 3 anos, eu respondi que, em 11/11/2017, conheci meu marido Diogo. Numa levantada de sobrancelha, ela me disse: mas isso não é algo ruim! 

Não, não é. É maravilhoso. Porém, assim que percebi que me casaria com ele, todas as sirenes de alerta, os alarmes de perigo, as luzes amarelas e vermelhas… Tudo foi acionado dentro de mim. E, num devaneio do meu inconsciente, me lembrei do sequestro not-so-relâmpago-assim que sofri muitos anos atrás. 

Eu estava esperando por um amigo dentro do meu carro, estacionado na porta da casa dele, quando fui abordada e conduzida a seis horas de passeio por caixas rápidos, postos de gasolina e supermercados até gastarem todo o limite dos meus cartões. 

Passado o pesadelo e de volta à vida normal, eu não parava mais o carro pra ficar esperando ninguém. Depois de um tempo, voltei a parar, mas sem desligar o motor e nem puxar o freio de mão, ou seja, pronta para arrancar a qualquer sinal de perigo.

Nunca mais fiquei tranquila dentro de um carro. Fico nervosa, olhando pelos espelhos retrovisores. Um cachorrinho saltitante que atravessa a rua, a árvore florida que colore a calçada, tudo é distração que eu devo ignorar para ficar atenta aos alertas de fuga.

Alguns relacionamentos passados me traumatizaram assim. Ao fim da fase de luto, eu jurava que não queria conhecer mais ninguém. Depois, eu até me permitia, mas me mantinha com os olhos no retrovisor e pronta para fugir ao menor problema, o que fiz todas as vezes.

Me lembro do exato momento que percebi que eu tinha algo pra viver com o Diogo. Ele sentou-se ao meu lado. Eu apoiava os cotovelos na mesa, ele jogado pra trás do jeito que até hoje se senta, quase se deitando no sofá. Ele perguntou qualquer coisa, eu olhei por cima do ombro, nossos olhos se encontraram. Meu coração me disse: é ele. Todos as sirenes de alerta soaram imediatamente após.

Ainda bem que eu tenho ouvido de cantora de Carnaval. Mesmo quando sob intensa batucada da bateria, eu consigo ouvir o acorde do violão e cantar no tom. Mesmo sob os gritos de perigo daquela romântica traumatizada, eu conseguia ouvir e ouço até hoje: fica, é ele, fica.

Foi isso que aconteceu há 3 anos. Despertei para o maior amor da minha vida, mas também despertei temores. Eu sigo aqui, obedecendo minha intuição. Se entro no piloto automático e deixo os impulsos do medo tomarem a direção, eu me torno crítica, irritável, inconvivível, e, com isso, eu crio distância, meu muro de proteção. 

Precisei de muitas vezes conversar comigo. Me explicar que o medo era trauma passado e que, para dar real chance para essa história, eu precisava ficar, ficar mesmo. Com olhos nos olhos dele e permitindo distrair-me com a graça dos momentos a dois.

Talvez seja justamente pra curar isso e o tanto mais de coisa que fui desenterrando nesse processo que algo apareceu ali no meu útero. Eu nunca lidei de verdade com algumas dessas feridas, que acabaram virando esse pavor de amar, de ser rejeitada, de morrer sozinha, de morrer. 

Eu não curei nada disso. Eu só ignorei. Tive que ignorar ainda mais uma vez para conseguir ficar aqui. Mas para, agora, sentindo-me amada, poder finalmente desligar os botões de perigo instalados no meu peito.

Sinto que é esse o convite que o meu útero veio me fazer e é essa a jornada escolhida para 2021: limpar as gavetas, deixar que o amor tome conta, sem medo.


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