Essa semana me perguntaram no stories qual era o maior aprendizado que eu tirei da pandemia. Foram muitos e a maioria comuns aos aprendizados que várias de vocês me relataram. 

Então preferi focar minha resposta em algo que não ouvi tanto por aqui. Até numa tentativa de saber se outras pessoas passaram pela mesma coisa, se observaram a mesma coisa. 

Se preferir ouvir a ler, você pode ouvir minha resposta no podcast do Vai Ser Feliz no Spotify https://open.spotify.com/show/1qqMnOXjThYsYyjMMqtUAO

O aprendizado, na verdade, foi a constatação de que eu não fazia a puta ideia de como praticar compaixão comigo mesma diante de tamanha adversidade e de que eu queria aprender. 

Como todo ser humano não negativista do planeta, eu sofri, eu me preocupei, eu fiquei ansiosa, eu senti impotência, eu vivi conflitos por excesso de convivência… 

Refleti sobre o ritmo com o qual eu estava levando a minha vida no meu antigo normal, sobre as prioridades que eu tinha, sobre a vida profissional que eu estava construindo… 

Senti vontade de tacar o foda-se e tive que me segurar. Eu senti vontade de bater em quem estava tacando o foda-se e tive que me segurar. 

Eu me esforcei para enxergar o copo meio cheio e tirar proveito do isolamento imposto. E nisso tudo, eu percebi que, sem perceber, eu oscilava entre dois padrões pra lidar comigo mesma. 

Ou eu assumia o papel da mãe brava, tipo: Chega! Para já com isso, esse mimimi! Olha como vc é sortuda. Levanta daí, sai desse vitimismo, engole esse choro, vai trabalhar, vai malhar, vai arrumar esse cabelo, passar um batom na cara, vai varrer essa casa! 

Ou eu assumia o papel da mãe benevolente, tipo: Eu sei. Você não merece passar por isso. Quer matar a aula? Mata. Quer tomar sorvete antes do almoço? Toma, tá tudo bem, toma sorvete todo dia, você merece. A vida está muito difícil, não precisa arrumar a cama, descansa, deixa isso pra lá, vai ver a série que você gosta…

Só que nem um e nem outro são realmente construtivos. O primeiro é de um desrespeito aos meus sentimentos… É como se não fosse legítimo estar insegura diante de uma pandemia, piorada pelo contexto brasileiro que gera desespero. 

O segundo parece um trato mais legal, mas é prejudicial à saúde física e emocional porque enfraquece o corpo e a autoconfiança. Incitar vitimismo pra justificar indulgências é quase uma sabotagem – ou é completamente?

Nenhum dos dois jeitos é praticar a autocompaixão – eu li no trabalho da pesquisadora sobre o assunto, Kristin Neff. No site dela, ela dá um exemplo justamente de uma mãe acolhendo e motivando ao mesmo tempo o seu filho. 

O guri chega em casa com uma nota ruim e, em vez de criticá-lo, chamá-lo de burro ou ainda jogar uma praga do tipo “desse jeito… você nunca vai entrar na faculdade… ou ter sucesso profissional… ter um futuro!” 

(Vocês ouviam isso? Eu não muito porque tirava notas boas. Mas, eu ouvia “desse jeito, ninguém vai querer ficar com você” Deve ser por isso que eu tenho medo de ficar sozinha… Vale observar se a gente segue se falando o que ouvia, viu. Mas feridas da infância é assunto pra outro podcast) 

Segundo a pesquisadora, a mãe compassiva, ou seja, acolhedora e motivadora, diria algo como “Eu sei que isso é frustrante para você, mas, olha, todo mundo passa por isso de vez em quando. É importante você melhorar as notas, se quiser entrar numa faculdade, então, vamos descobrir um novo jeito de estudar que funcione melhor. Eu sei que você consegue!”

E ela diz que ter autocompaixão é lidar assim com as nossas emoções, erros, imperfeições… Nossa humanidade. É reconhecer um erro, uma imperfeição, algo que fizemos ou somos de que não gostamos. Reconhecer o sentimento que isso no gera. 

Entender que tudo isso faz parte da jornada da existência como ser humano e muitas pessoas, se não todas, vivem isso também. E criar jeitos de lidar com a gente de forma construtiva. Buscar mudança, melhoria, desenvolvimento porque isso nos fará bem, ou seja, a motivação é autocuidado. 

Me pergunto se eu não sabia me acolher porque quase ninguém sabe, quase ninguém foi educado assim nem por pais, nem por professores, nem líderes no começo de carreira… Quase ninguém aprendeu que existe a alternativa do amor motivador. 

Mas eu acho – lá vem eu com o papo do treino – mas eu acho mesmo que, entendendo esse conceito da Kristin Neff, é questão de treino. É prática. 

É definir claramente como pretende agir daqui pra frente consigo mesma quando diante de dores e falhas e seguir à risca o script definido até que se torne hábito. O hábito de ser amorosa, cuidadosa, incentivadora de si mesma.

Porque, avaliando aqui, todos os dias que eu acordei borocoxô e intuitivamente escolhi uma música pra dançar e cantar no banho. Ou as tantas vezes que eu pedi abraço pro Diogo que até virou um hábito matinal nosso o de abraçar longo, assim que acorda. Ou do caderninho em que eu comecei a escrever meus pensamentos e minhas afirmações positivas. E de como eu troquei café por chá para dormir melhor. 

E eu sei de gente que começou a fazer yoga e meditar, que reduziu consumo de carne, que investiu em cursos online, que mudou de carreira no meio da pandemia! E que se presenteou com terapias e coaching. Eu sei por que eu mesma fui presente que muitas mulheres se deram. Quer dizer, meu coaching. E eu mesma me dei um presente e voltei para a terapia.

A gente tem o instinto do autocuidado! Mesmo quando a gente usa chicote pra realizar a rotina de autocuidado, o objetivo por trás é… autocuidado! 

E mesmo quando a gente se sabota e procrastina e não faz o que combinou com a gente mesma, numa tentativa surreal de nos proteger de críticas, rejeição, desconforto. No fundo, essa proteção é autocuidado! 

Então, o aprendizado é na forma de nos conduzirmos, porque vimos aí que tem um jeito menos estressante, mais motivador e com maior chance de nos levar a colher realizações, saúde e bem-estar, que é o da autocompaixão.

E eis meu grande aprendizado – um dos muitos, mas eu diria que um dos mais importantes – da pandemia. Na verdade, do silêncio externo, que a pandemia ofereceu e que, quem aceitou o convite, como eu, conseguiu abriu espaço para ainda mais auto observação.

Espero que faça sentido que eu esteja falando assim da pandemia como se já fosse algo prestes a acabar. Realmente, espero. De toda forma, é um aprendizado para o resto da vida. É preciso silenciar o externo, se observar, questionar padrões de comportamento e, se for o caso, definir novas formas de lidar consigo e com as adversidades da vida.

Beijo e… #vaiserfeliz


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