Esses dias, vi um vídeo de uma menina chorando e dizendo-se feia e a mulher que estava com ela a interrompeu, pegou no colo, abraçou, embalou, chamou de linda e começou a elencar várias qualidades que a menina tinha de bonito, como cabelo, sorriso, covinhas, dentes…. Esse vídeo me fez pensar por muitos dias e sobre vários aspectos. Me perguntei se teríamos a mesma reação. Se fosse com a gente, se uma menininha nos chegasse chorando, claramente sofrendo muito por olhar-se no espelho e ver-se feia, o que diríamos? “É mesmo. Você é nojenta. Olha esse nariz, essa perna… Ninguém vai te amar assim. Você vai acabar sozinha.”? 

Cruel, né? Não é curioso que a gente não considere nada cruel se dizer essas palavras ao olhar uma foto ou se olhar no espelho? Eu sei. Reconheço e experimento isso todo dia. É automatizado já. O olhar vai direto para as imperfeições e a gente começa: estou enorme, olha esse braço, olha essa barriga… E, mesmo que a gente nem admita pensar, lá no fundo, ronda o medo disso nos levar a ser rejeitadas e nunca merecedoras de amor. Mas e se, como a adulta que acolhe a criança, a gente simplesmente interrompesse o fluxo da detonação e começasse a elencar o que tem de legal na gente?

Já seria incrível. Mas, como disse, ruminei dias sobre o assunto. Na qualidade do conforto oferecido. Veja, eu não quero criticar o acolhimento, longe de mim, mas eu parei pra pensar se as únicas coisas que podemos elencar de legais na gente tem que ser físicas. Será que ainda não estaríamos condicionando o amor à beleza? (Tô chamando de beleza o que se convencionou beleza no nosso tempo, tá?) 

Lembrei das pessoas que eu amo. Nenhuma delas escolhi conviver por serem belas. Escolhi por dividirmos valores e termos curiosidade sobre as mesmas experiências de vida ou interesse por aprender sobre justamente o que o outro tem e que nos falta… Escolhi porque a pessoa me faz bem e, assim, me faz querer fazer bem também e, assim, ser um ser humano melhor. São tantos motivos diferentes que me atraem e me fazem amar pessoas diferentes. Nenhum, pelo motivo de serem belas. 

Então, fico pensando que mesmo na situação extremada de olharmos uma foto nossa ou nossa imagem no espelho e não conseguirmos achar absolutamente nada de legal em nenhum aspecto físico nosso. Acho difícil porque todo mundo consegue achar alguma coisa, vai. Uma cor de cabelo, o formato do dedão do pé… Mas, a título de exercício, se realmente não acharmos nada. Ainda assim, se não é por suas belezas que a gente ama quem a gente ama, porque a gente não pode, mesmo se achando feia, acreditar que é possível sermos amadas por outras características que nos formam? Somos feitas de tantas variáveis… Por que só a beleza física seria a chave para nos amarmos e sermos amadas?

Digo com o meu coração aberto aqui e zero intenção de receber mensagens-confete, tá? Eu tenho muita dificuldade de ver beleza em mim. Ainda. Talvez nunca consiga. Foram muitos anos de  doutrina. E agora… Agora eu estou envelhecendo… Sinto meu rosto derreter, a pele amolecer, o cabelo acinzentar… Não é fácil olhar fotos, muito menos me olhar no espelho. Aaah, mas eu… eu venho construindo um alguém de quem me orgulho tanto. Tento aprender todo dia e melhorar todo dia e já aceitei que vai ser assim pra sempre. Tem feito parte do aprendizado, o acolhimento das minhas imperfeições como algo normal. 

Li num livro que o normal é ser imperfeito. Concordei. Acho que o perfeito é o imperfeito retocado para um certo momento estático e efêmero. No movimento, no caminhar, no passar do tempo, somos imperfeitos. E na imperfeição nos unificamos, na imperfeição nos tornamos únicos e é nela que vamos nos amar. <3 #vaiserfeliz

Ps. Imagino que não responderíamos a uma criança do jeito que descrevi no começo do texto, como não falaríamos assim com nenhuma mulher diretamente. (Espero) Mas, vamos confessar? A gente pensa umas coisas bem cruéis sobre outras mulheres, né? Eu já ouvi amigas fofocando sobre atrizes que engordaram e até que envelheceram. Como se envelhecer fosse uma escolha, veja bem. Nessas horas, eu sempre respondo: como todos os seres vivos, amiga, inclusive você, vamos parar com isso?

(Ai, por que eu sempre tenho que terminar com uma cutucada ariana ardida? Taí uma imperfeição das boas!) 


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