Ele não veio morar comigo. Foi uma invasão. “Mas você trouxe tudo seu? Até os instrumentos?” Tudo. Ele trouxe tudo!
Sorrisos abertos como os de criança recém-alimentada e música sertaneja. Massagens e reiki para minhas dores de cabeça e camisetas penduradas em todas as cadeiras da sala. Piadas hilárias e outras meio machistas. Mensagens carinhosas de bom dia, boa tarde, boa noite com emojis de coração e abomináveis regatas do Flamengo.
Uma energia tão boa, quase inesgotável, que fica tão barulhenta quando me bate o sono… Vontade de compartilhar tudo da vida até vídeos sem graça do youtube. E os seus um milhão de instrumentos de percussão.
Por dois anos, resisti. Reclamei da música, da bagunça, do barulho. E como reclamei daqueles instrumentos! Ocupavam todos os cantos da casa. Eu os transformei em enfeites nas estantes e aparador, os usei como mesas de apoio para copos nas laterais do sofá da sala de estar e como banquinhos pra descansar as pernas em frente ao sofá da sala de TV.
Eu os usei até como barreira pra que a cachorra não ultrapassasse território proibido do quarto! E ainda havia muitos escondidos atrás da cortina!
Resisti até hoje cedo quando café na mão, celular na outra, observava quais ângulos da casa fotografar para usar de inspiração para esse exercício de escrita. Olhei para todos aqueles instrumentos e pensei: ele faz música também dentro de mim e eu gosto de tudo assim, do jeitinho que está (somos).
Nem tudo é o tempo todo bom, mas em tudo nem tão bom tem algo bom. É só ajustar a lente.