Ela me fez me sentir especial por 17 anos. Eu chegava em casa, ela me recebia com pulos de alegria. Eu falava: Mel, sou só eu! De novo! Como faço todos os dias!
Cachorro tem isso. Não se acostuma com o amor.
Hoje, ainda me faz uma festinha. Não é mais a mesma. O passar dos anos a deixou meio sem ver, meio sem ouvir, meio descadeirada.
Tem dia que ela não percebe. Eu tenho que ir até ela, me ajoelhar e dar oi bem pertinho, pra que “veja” que cheguei. Ela esboça um abanar de rabo e volta a dormir.
Desde que meu marido entrou em nossas vidas e em nossa casa, eu o recebo com um sorriso feliz quando chega. Não é automático, como da Mel. Pelo contrário. Tem intenção e, em alguns dias, esforço para vencer a preguiça ou o humor abalado pela rotina puxada.
Mas faço. Quero que ele se sinta especial como eu sempre me senti ao passar pela porta. É o jeito de amá-lo como ela me ensinou.