Conheço poucas pessoas que gostam de se lembrar da própria finitude. Eu gosto. Saber que, pelos meus planos, me restam 40 anos de vida, não é algo que me entristece. Pelo contrário. Eu fico me perguntando como fazer valer daqui pra frente.
Até aqui, ainda prevalecia a mentalidade juvenil de achar que seria inconsequentemente pra sempre, que havia tempo pra todas as coisas e nem tudo precisava ser intencional. Hoje, uso a nostalgia pra me manter no presente.
Do mesmo jeito que sinto saudades de rir pela primeira vez daquele episódio de Friends, em que eles tentam desmascarar Chandler e Monica – “They don’t know that we know they know we know!”, sinto saudades da sensação de matar aula pra ficar ouvindo música grunge no discman. Ou de quando alugávamos VHS e passávamos os sábados em família devorando filmes de terror que me mantinham acordada pelas madrugadas seguintes.
Me lembro de tudo com carinho. Me lembro também de nunca estar 100% ali. Eu queria estar em outro lugar. No mundinho ideal – não existia instagram, mas existia revista feminina, tá – eu não estaria com minha família e sim cercada de amigos sorridentes a la revista capricho. Eu não estaria com duas nerds da minha sala e sim cercada de amigos sorridentes a la revista capricho. E, acima de tudo, eu não seria adolescente – argh – eu seria uma adulta oh-céus-oh-vida, cheia de questões importantes para resolver.
Eu era muito sortuda. Ainda sou. Mas agora eu sei. Tudo tem fim. Nunca mais aqueles momentos. Nunca mais minha estreia cantando no trio elétrico. Nunca mais fazer 40 anos. Nunca mais a primeira noite dele de mala e cuia lá em casa. Quanto da vida eu não teria vivido com mais intensidade se pensasse assim?
Mesmo sabendo, no fundo do meu coração, que meu marido é minha alma gêmea e estaremos sempre juntos, Diogo e Camila, só essa vez. Também sei que o trio de almas-borboleta que somos minha mãe, irmã e eu nunca se acabará, mas como família, só essa vez.
E eu não quero dizer que eu vivo disso porque eu realmente não vivo no passado. Nosso tempo é hoje, né, príncipe? Mas hoje eu sei que tem muita coisa que era importante na época e eu não vivi tudo. Então, hoje eu curto cada momento como quem sabe que será a última vez da primeira vez desse momento.
E é dessa finitude que eu me relembro com frequência desde que fiz 40 anos. Não falo da morte. Como um dia chorei ao ouvir Gil cantar: “não tenho medo da morte, mas, sim, medo de morrer”. E até essa certeza de fim me alivia o medo porque, como esses momentos importantes da minha vida, as dores, um dia, também passarão.