Vi no Quebrando o Tabu de hoje a seguinte pergunta: O que você queria ter ouvido quando era criança?
Nem precisei pensar! Respondi imediatamente:
Você não precisa ser magra, linda, comportada, adequada pra ser muito amada e eu vou garantir que você tenha certeza disso e eu vou te proteger de quem vier te dizer o contrário.
E aí eu chorei.
Não muito pelo fato de que eu não ouvi, mas porque, apesar de todo treinamento de amor próprio a que eu venho me dedicando nos últimos anos, eu ainda sinto dificuldade de dizer isso pra mim mesma com a sensação de que é 100% verdade.
Dizer até digo. Eu faço muitas declarações de amor a mim. Já contei pra vocês do japamala que usei por um ano, repetindo diariamente o mantra “eu me amo e me aceito profunda e completamente” e que eu passei a incluir ao menos um agradecimento ou elogio a mim mesma no exercício do potinho da gratidão…
Mais recentemente, comecei a fazer práticas de ho’oponopono dedicadas às partes do meu corpo de que eu nunca gostei e às quais sempre me referia com palavras ofensivas e sentimentos negativos. E eu também aprendi a dizer muitos nãos. Muitos! Pra coisas, pessoas, trabalhos… Tudo que me afastasse de mim mesma.
Eu me comprometi a não ser refém da minha história de amores condicionados. Eu escolhi ser a protagonista – roteirista, diretora e protagonista! Eu decidi ser a pessoa a me dizer tudo o que eu queria ouvir e fazer escolhas alinhadas com a minha essência e anseios reais.
Já faz uns bons anos isso.
Mas quando eu me vejo, depois de quase oito meses em isolamento com os cabelos grisalhos, as unhas roídas e acima do peso, querendo aderir a uma dieta super restritiva ou ceder ao impulso de furar isolamento para ir ao salão e voltar à academia mesmo no meio de uma pandemia fatal, colocando minha vida e a de outros em risco porque eu acho que preciso estar bonita… Eu vejo o quanto ainda tenho muito que caminhar.
Como é forte o discurso adequação ou rejeição que ouvi quando criança, internalizei e reforcei por quase 40 anos (com grande ajuda da publicidade). Se me deixo levar desatentamente, eu me pego falando pra mim mesma em frente ao espelho: nossa, eu preciso emagrecer, dar um jeito nesse cabelo.
Acordo, resisto, parô!!! Eu não vou pintar cabelo mais, eu sempre tive alergia à tinta, tinha que tomar remédio, fazia ferida no meu couro cabeludo! Aí, vêm umas marcas espertas me dizerem que ok, tudo bem, tenha cabelos brancos, mas saiba que cabelo branco bonito tem que ser assim e assim e assim.
E já estou eu de novo pensando em como estou inadequada para os padrões do novo grisalho. Ah, se fuder! A gente não pode desligar um minuto e já vem alguém impor um novo padrão?
Lá vou eu de novo. Eu me amo e me aceito profunda e completamente. E o medo da rejeição insiste. E se eu decidir não pintar mais os cabelos? E se eu decidir não emagrecer? Será que isso vai prejudicar meus relacionamentos? Será que vão me contratar menos?
Parôoo! Falo alto e bato palmas, como já ensinei mil vezes a vocês.
Quero acreditar que a vida não é decidir sobre adequação ou rejeição. Quero acreditar que a vida é: ame quem você é agora, se transforme em quem você quer realmente ser e ache a sua turma.
O que acreditamos sobre a vida é uma escolha. Não controlamos opiniões mas, como reagir é escolha também. E contra esse barulho todo, eu escolho aumentar o som do meu amor próprio.
Eu vim aqui te contar isso porque tenho certeza que você também vive essa ruminação de cobranças internalizadas pelas pressões externas de adequação. Espero, com isso, que a gente veja o quanto isso é humano e quanto nos aproximamos quando nos vemos passando pelos mesmos desafios.
Acima de tudo, vim aqui te contar isso pra reforçar o convite pra você e pra mim de nos mantermos firmes no nosso compromisso de nos amarmos profunda e completamente, sem regra ou condição. De darmos às nossas crianças internas aquilo que um dia desejamos receber de um adulto porque agora nós somos as responsáveis pelo bem-estar e felicidade delas.
E nós temos escolha!
Vai se amar, vai exercer seu poder de escolha… Vai ser feliz!
Eu vou com vocês.
(Se você prefere ouvir a ler, saiba que quase todos os textos do blog são roteiros de episódios do podcast Vai Ser Feliz e você pode escutá-los no Spotify, entre outras plataformas. Saiba mais aqui: https://anchor.fm/vai-ser-feliz)